Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

quinta-feira, 21 de junho de 2012

a clandestinidade do ser... / fábio de carvalho (21/06/2012)




 a clandestinidade do ser... / fábio de carvalho 

Existem momentos em que trocamos a euforia da conquista pela angústia que dilacera o nosso peito.
Porque muitos momentos da nossa vida são apenas ânsia e incompreensões pessoais. 
Não se compreende palavras simples, gestos complexos, não se aceita o barulho do vizinho, não se dorme mais durante a noite...
Conversas só se forem em monólogos.
Luz, só se for à do fosforo que acende a luminária em forma de candeeiro ou o fogão para preparar o precioso café, o néctar dos deuses...
Nada custa para nós quando estamos de coração feliz, com o rosto estampado de satisfações, porém, se sabe que toda fisionomia é instantânea...
Cada qual compreende as palavras que surgem casualmente nos dias em que se criam discursos superficiais.
Para cada situação existe uma contrarrazão. 
Eu não sou de procurar compreender as contrarrazões dos fatos, das pessoas, vida comum ou complexa.
As minhas queixas geralmente faço-as contra mim mesmo.
Não tenho queixa de ninguém e abomino interjeições desconcertantes.
Às vezes me pergunto o porquê de tanta importunação de umas pessoas para outras, se na maioria das vezes carregamos obscuros segredos.
Também não sou contra os segredos, pois se não se pronuncia algo acerca das coisas passadas ou propícias de acontecerem é porque a pessoa achou por bem não divulgar ou cogitar. 
Penso que no tempo em que não se encontrar os motivos para se concretizar a vida feliz, o entendimento de um sorriso sincero, as dúvidas que nem as experiências da longa vivência nos ajudem a decifrar e a falta de vontade ou a ausência de razão em querer conversar acerca das coisas do nosso meio, é porque aquilo que nos foi proposto pela vida já se concretizou como o destino das pessoas se concretizam todos os dias.
Hora! Eu não posso imaginar o contrário...
Muitos poderiam dizer que seria uma possível depressão...
Na minha visão, acredito que o meu café quente pode queimar aminha língua como uma palavra pode afetar diretamente o coração de alguém ao ponto de provocar-lhe um enfarto. 
Quando o nosso compromisso com o que nos foi de grande valia for cessado, logo compreenderemos que alcançamos os limites do cais destino...
Por isso, veremos cedo ou tarde que os frutos caem das árvores em estações diferentes, em dias diferentes, em horas diferentes, em lugares diferentes...
Como não pensar que cada um agirá de acordo com os anos e as experiências incomuns que lhes garantirá a análise própria e casual de tudo àquilo que lhe for desempenhado analisar?...
É por isso que chegará a hora que análises não farão mais sentido algum.
O nascer do sol será noite e o cair da noite será dia...
Quando pensarem que precisamos ir para tal destino, compreenderemos que não, que os caminhos já foram traçados e que a realidade é bem diferente da vida do quarteirão, do bairro, da cidade...
Quando sentirmos isto, ficaremos desambientados com tudo e com todos.
A vantagem maior será saber que quando pensarem que você deverá ir, você já voltou, mesmo que isto não faça diferença alguma...
Certamente, eu já não dou a devida importância ao barulho do cachorro que late de alegria quando me vê.
Ainda assim, acreditando que se um ato de isolamento é fruto de vários atos na coletividade, penso que penso certo, porque muitos são os instantes vividos de diversas maneiras e em diversas situações...
Talvez viver na clandestinidade de si mesmo não te frustre tanto, não magoe tanto a si mesmo, não te faça imaginar tantos absurdos...
Na verdade, todos um dia viverão na clandestinidade de modo imperceptível.
Diante dessa situação, não me vejo daqui a um breve tempo sorrindo para o pássaro que me reclama o alimento diário não colocado em cima do muro ou até mesmo as reclamações dos vizinhos por não terem ouvido mais soar meu violão do meu quintal.
Dos pesos que a minha mente carrega esse é o menor deles...
Agora me calarei. 
Vou refletir um pouco acerca desse meu ato insignificante.
É isso...
Um dia nós todos seremos insignificantes...

Cortês – Pernambuco, quinta-feira, 21 de junho de 2012.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

penso coisas... / fábio de carvalho (18/06/2012)




penso coisas... / fábio de carvalho


Penso que preciso de uma rosa, não importa a cor, o que importa é que ela seja doce como sua maciez e que me advirta com os seus espinhos.
Penso que necessito de uma noite assim como careço do dia, na mesma medida, no tempo ideal, onde a importância maior é que antes do dia eu viva a noite com a esperança de enxergar o dia que se prepara e com a mesma expectativa de poder viver o dia presente, a espera da noite que se aproxima.
Penso as vezes que não preciso mais de nada.
Sonhei em ver o nascer do sol tantas vezes...
Perdi a conta de quantos horizontes pude ver.
Talvez eu não mais precise ver horizontes.
Talvez eu precise de coisas mais diferentes e abstratas, que me faça sentir aquilo que não compreendo e viver coisas que não espero.
Penso ainda que necessito mais da natureza do que mesmo das pessoas que me rodeiam, pois sendo eu eterna solidão nos meus porões literários, me revisto de um livro que nunca foi lido e que jamais será conhecido.
Penso que em situações de amargores indissolúveis, a minha alma necessita mais do chão da terra do que das nuvens dos céus, pois ao menos posso tocar o chão, e o céu só posso sentir quando o contemplo.
Penso que as minhas mãos não mais necessitam de lápis, que meu espírito poético não necessita de novos encontros com a natureza para nutrir-me de novas inspirações, que a minha nuca não necessite do meu velho coçar vicioso e que as minhas pernas não acham conveniente poder caminhar pelos mesmos lugares...
Penso que preso a ideias de lembranças, estarei tentando reviver meu passado sofrendo duas vezes, ou sendo feliz duas vezes, onde na calada da noite, esse vicio se repete trazendo-me novas velhas lembranças...
Assim, sofro duas vezes mais do que as duas primeiras vezes, sabendo que as minhas lágrimas, quando escorrem, deslizam por novas fendas do meu rosto, enclausurando assim a minha vaga felicidade.
As minhas lágrimas escorrem como se um riacho escorresse diante de mim, em busca do esvaziamento de si mesmo ou do encontro de novas águas.
Penso que represento muito para mim, ainda...
Pensando isto, acredito que quando eu me for, sentirei saudades de mim como a primavera sente falta das flores ou como a aurora e o ocaso sentem falta do sol e da lua, que diante um do outro se cumprimentam no espetáculo do cruzamento do dia noturno e da noite diurna.
Não sei se me faltam palavras para pensar que talvez eu necessite de novas palavras para escrever, de novos cenários naturais para contemplar, de novos caminhos para trilhar, de sonhos incomuns para meu mundo surreal e distante daquilo que todos veem ou acreditam que veem...
As minhas aspirações, todas elas, são metamorfoses que me fazem sentir algo que nunca soube que iria sentir...
É por isso que nos meus porões literários, escrevo páginas submersas, frases alquimistas que só eu às vezes compreendo, pensamentos de extrema escuridão luminosa, pois só os olhos da alma podem enxergar, convicções não tão definidas e definições extremamente imperfeitas ao ponto de eu querer reinventar meus escritos sempre que acho por bem...
Talvez as minhas vontades sejam coisas adequadas para manchete de página de jornal vencido ou de horário político ideal...
Mas creio com toda a força de uma formiga que ergue seu peso por volta de cinquenta vezes, que se eu pensar que não preciso mais de mim, a minha saudade das coisas que não me fará tentar recriar o meu legado como faz o tempo, os dias, o destino...
Espero pelo tempo...
Ele me traz todos os dias pela mão e me entrega com o sol, com a lua...
E assim vai tecendo o meu destino...


Cortês - Pernambuco, segunda-feira, 18 de junho de 2012.