Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

a razão que me alimenta / fábio de carvalho





a razão que me alimenta / fábio de carvalho


Logo compreendo que não sinto necessidade de ignorar as pedras.
Os tropeços nos são necessários para sentir a suavidade do chão.
A nossa alegria se desvanece sem ideal nem compromisso.
Meu sossego é como uma folha que corre chão a fora sem que ninguém perceba.
Sei que nos caminhos veremos pedras, folhas secas...
Sei também que não necessito observá-las como deficiências naturais ou devaneios imaginários.
Cada passo que se dá se espera o próximo, mesmo que existam pedras ou penhascos.

Eu me desencontro sempre que escuto a sonoridade da natureza.
Penso que estou só no meio das folhagens, dos abacateiros, ouvindo cigarras cantarolando...
...ou vindo garras dos animais humanos ao meu encontro.

Sinto que pelo caminho hei de compreender tudo sem que a razão me explique.
Minha razão é de pedra, de gás, de sonho, de neve...
Minha razão é temporária como os dias que vem e se despedem...

Os dias sempre se despedem sem que percebamos.
Um dia nos despediremos dos dias...

...também...


Cortês - Pernambuco
Segunda-feira, 20 de agosto de 2012.


puras em essência / fábio de carvalho

LINK DA IMAGEM CEDIDA POR  Líria Porto 
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=348501108566459&set=a.247909438625627.60391.100002197187730&type=1&theater&notif_t=comment_mention


puras em essência / fábio de carvalho

Pés de Anjo tão singelos
É o que ver-se de primeira
Depois se vendo, é bem certeira
O retrato que mostra. Belo...

É o ambiente talvez seco
Pel’aspereza dessas folhas
Que deixam triste e sem escolha
Um’alegria, mas um beco...

De sugestões talvez poéticas
Nos é indicado, talvez pescas
De sentimentos puros, aceitos...

...por quem fitar essas mãos puras
Que afastam todas amarguras
E faz um bem ao nosso peito...

Cortês – Pernambuco
segunda-feira, 20 de agosto de 2012.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

caravelas / fábio de carvalho



caravelas / fábio de carvalho


Vejo de longe uma caravela se dissipando no mar.
Vai-se meu pensamento para longas lembranças.
Cumpri muitas promessas, muitas penas.
Senti a dor de tantos momentos intrincados.
Nenhum sentimento de dor supera a de olhar um barco indo para o desconhecido.
Pelas minhas decepções pude compreender coisas sobre o tempo e sobre a cura de si mesmo quando mágoas nos acometem sevas penalidades.
Ainda assim vejo barcaças se despedindo, navios partindo para sempre.
No mar que a vida reserva para nós, os navegantes, marinheiros e almirantes, encontramos naufrágios, rochas solitárias, ilhas de desenganos...
Não é possível concluir muitas coisas.
No mar ou se arrisca ou perde-se para sempre.
Nas noites, quando as tempestades chegam, a melhor coisa a fazer é chorar com ela.
Não venceremos suas lágrimas, mas falaremos a mesma língua, e quando se fala a mesma língua de alguém que se teme, sentimo-nos inferiormente ameaçados.
Importante ou não, as canoas que se vão para as conquistas do além-mar, me causam imensas e desconcertantes sensações de angústia...
Lá se vão...
Homens de barbas enormes, com o coração cheio do lodo da experiência.
Nos rochedos de alto-mar, encontramos água doce nas suas locas no alto da proa.
A ponta do arpão lembra a qualquer um a dor da navalha que o sentimento de ida sem volta nos faz sentir.
Quantos chapéus não foram lançados ao mar no ato da despedida?...
Quantas lágrimas foram ao encontro das águas também salgadas ao cair dos olhos almirantes daqueles que travaram a mira de um olhar de sonho e de interrupção causada pelo destino?...
Não compreendo diante de um navio, no cais, no momento da partida, a sensação da despedida.
Quantos de nós não se despedem todos os dias no cais destino?
Talvez o peso da distância que se revela a cada metro de costa percorrido nos faça perceber que a noção de distância e de dimensão seja apenas temporária...
Há quem afirme cegamente que para ver quem se deseja basta fechar os olhos.
O coração reage avesso a frases conformistas.
O dom dos navios é levar para longe, felicidade...
O cais é mais um desses lugares que faz de fins de tardes, de inicios de noites de lua cheia, de amanheceres únicos, momentos eternos de sonhos, de saudades, de eterna angústia...
Talvez não seja aconselhável visitar o cais, os navios que estão de partida ou até mesmo as barcarolas feitas de papel para serem lançadas nas costas em dias de marés afoitas.
Tudo que é ligado ao mar traz-nos lembranças impreteríveis e um vago inexplicável.
Tais desafetos, deixemos para poetas incultos...
...estes são os escultores da memória triste, os inventores das intermináveis estradas sem rumo e sem saída...



Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 15 de agosto de 2012.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

eu deveria saber... / fábio de carvalho

Foto: Fábio de Carvalho - Acervo Pessoal.


eu deveria saber... / fábio de carvalho


Quando eu percebi que a maré havia baixado, o sal das águas já havia ressecado meus pés.
Percebi que meu olhar estava um tanto quanto desatento.
Não lamentei o beijo perdido da última onda naquela tarde, lamentei ter sido desatencioso.
Vi que não poderia voltar atrás e conclui que muitas ondas viriam novamente, menos aquela. 
As ondas são eternas reconstituições.
As ondas diluem-se e no encontro com águas dispersas, formam-se de novas gotas, de essência talvez singular de segundos de vida, apenas...

Eu reconheci as minhas imperfeições naquela tarde.
A falta de atenção, a primeira delas.
A chegada de um vazio me fez reconhecer que somos cheios daquilo que nos debilita e nos descaracteriza.
A maior de todas as imperfeições identificada em mim por mim naquelas horas derradeiras da tarde, foi o meu desprendimento próprio para com as coisas naturais.

Cada um pode buscar em si aquilo que nos deixa de lado por nós próprios.

Observei que antes do sol ir-se para um lugar qualquer, ele beijou o mar.
O mar acenou com o braço da onda sorrindo espumas da cor da paz.
Da orla eu me via sozinho...
...onde o mar, talvez vilipendiado, na inquietação de maré baixa, lembrou-me de várias coisas que eu deveria saber...
Uma delas foi à importância de enxergar as coisas ao meu redor. 

Cortês - Pernambuco, terça-feira, 14 de agosto de 2012.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

propensões humanas / fábio de carvalho


propensões humanas / fábio de carvalho


Há necessidade nos dias.
Existem necessidades em todos nós.
De cima cai o sol, a chuva, rodopiam os ventos.
Nunca fui de observar o que surge dos redemoinhos.
As minhas palavras são feitas de som e de silêncio.
Escuto-me no barulho, escuto-me no silêncio.
Analiso tudo e todos, com o cuidado de não exercer julgamentos insanos e desleais.
Se a chuva fosse boa não existiriam inundações.
Se as lágrimas fossem ruins, não choraríamos de alegria.
Cada qual se serve daquilo que sacia sua carne.
A alma sempre fica em segundo plano.
Adoecemos da mente.
Sempre nos esquecemos de nós quando achamos que nos encontramos.
Almejo sempre compreender os pássaros.
Não desejo entender aquilo que o humano se diz ser.
Creio mais nas tempestades do que nas secas, nas estiagens.
Em tempo seco adoeço da garganta.
Em tempo frio adoeço da garganta.
Nada me convence de que as coisas próprias deixam de serem elas mesmas.
Apalpo minhas mãos para sentir o afago próprio das mãos condutoras de tantas linhas imaginárias, indecentes, insanas e puras em divindade.
O mar me basta quando não desejo pisar o chão.
Acontece a mesma coisa quando não quero estar perto do mar.
Abro a porta da minha casa e deixo que o vento entre.
Fico a observar a cortina balançando como a fimbria de um vestido que some na curva de uma parede.
O invisível me deixa pasmo.
As estradas me contrariam quando me confunde nos caminhos.
Cada pedra que surge, quando pequenina, eu chuto.
O sabor da colheita dos sonhos não me repreende de modo abstrato.
O visitar a floresta sinto que deveria ter retornado mais vezes com várias sementes para plantar as margens do rio.
O galo já não canta na cidade grande.
O que me faz ser indiferente e frio é a indiferença alheia e a necessidade de um agasalho em noite de inverno.
Animais dessem rios abaixo submersos às águas barrentas.
Os políticos se deslumbram ao confirmar mais um cadáver vítima de um desabamento qualquer.
Calculam as verbas advindas dos fundos das calamidades.
Os cortes e as navalhas andam juntos.
O veneno da alma é a ganância, a ilusão, o sarcasmo.
A paz que o homem deveria ter deveria ser comparada a dos tubarões martelo.
Logo concluo que o desassossego é o fruto de sementes infindáveis que o homem planta e colhe demasiadamente delirado.
O resto do mundo não é da porta dos fundos da minha casa para o meu jardim.
O mundo para mim sou eu.
Eu sou o espaço.
Eu sou a terra.
Eu sou pó.
Eu fui...

Cortês – Pernambuco, segunda-feira, 13 de agosto de 2012.

domingo, 12 de agosto de 2012

monólogo refletido contra o espelho da prataria / fábio de carvalho


monólogo refletido contra o espelho da prataria / 
fábio de carvalho

O latifúndio aí estar.
Sempre quis andar pelos caminhos.
Jamais serei o que não sou.
Busco em mim aquilo que não encontro nos outros.
Busco as horas;
Elas me são necessárias.
Meus lamentos são de uma alegria assombrosa.
O colarinho dos políticos não é branco, invisíveis, creio.
A escuridão celeste me faz sentir saudade da luz do sol.
O frio me faz lembrar o verão borbulhante.
Saio pelas ruas sem destino.
Meus pensamentos não tem rumo.
Minha sabedoria vem de onde não surge cegueira humana.
Os passos dos outros também são meus.
Meus pés suportam muita caminhada ainda.
Meus olhos, como quem não quer nada, se fecham com o sono.
A insônia me ajudou a escrever muitas páginas que me acompanham.
O sereno da noite é irreal quando se busca o irreconhecível. 
Cada palavra que pronuncio já foi escrita.
Os meus sonhos me vem quando durmo.
Logo as minhas palavras pensadas se vão por novos pensamentos se achegarem até mim.
Meu reflexo interior me é desconhecido.
Sou uma pessoa simples.
Escrevo muito, sem me dar conta da quantidade de páginas.
Sufoco a mim mesmo quando dou longas tréguas à literatura.
Rego meus dias com a água da terra.
Não costumo me prestar a serviços irrelevantes.
Abomino tristezas visuais.
O meu sofrimento é quase eterno.
A minha alegria é infinita.
O sossego é irrelevante quando se possui melancolia.
As minhas incertezas fazem parte das minhas indecisões.
Algo estar para acontecer.
O mundo não suporta mais tantas injustiças.
Meus inimigos se dão bem e mal.
Minhas promessas são acorrentadas pelo tempo.
O que acredito é que quem dorme bem nem sempre descansou o necessário.
Cabe ao mundo respirar.
Caberá a nós morrer sufocado com o pulmão do mundo inflamado...


Cortês – Pernambuco, domingo, 12 de agosto de 2012.

gosto de vida / fábio de carvalho


gosto de vida / fábio de carvalho


O gosto da areia não tem gosto.
Sabe lá o porquê de tanto arranhar em nosso paladar.
Não tinha costume de provar o gosto de pedras, terra, barro...
Fui me acostumando para assim, poder sentir a realidade das coisas.
Nunca pensei que dentro do mar existisse água doce.
Eu pensava ingenuamente, pois como eu não sabia, compreendo que não estava errado, sabia que pensava certo, pois o certo para nós, é aquilo que temos conhecimento. Se eu não possuía a informação correta, o correto para mim era aquilo que eu compreendia ingenuamente.

Fui até a beira da praia para degustar o sabor de uma aurora nebulosa.

Eu não sabia que a neblina das montanhas não tinha gosto de gás...
Sabe Deus o gosto daquela nevoa natural, daquelas cortinas que agasalham as matas e escondem os bichos dos seus predadores.

Como eu não sou um descobridor, um interprete nem um vasculhador enigmático, buscarei apenas compreender sobre a minha ótica, pois assim, não tentarei encarar o sol para que seus raios não cegue os meus olhos com sua luz que nos ajuda a enxergar...

Conheço meus limites...


Cortês - Pernambuco
Domingo, 12 de agosto de 2012.

sábado, 11 de agosto de 2012

a revolta do mundo não cabe em mim... / fábio de carvalho

 "a revolta do mundo não cabe em mim..." / fábio de carvalho


"O mundo não cabe em mim... 
A natureza basta aos meus olhos. 
Cada dia que se achega, que se apresenta a mim, compreendo-me mais; (...)
...e sabendo que nunca me compreenderei por completo, seguirei carregando o que meus olhos contemplar e o que a natureza me oferecer.
Já não vivo satisfeito no mundo, pois o mundo é largo e escasso como minha cegueira interior, como minha salgada risada submersa em lágrimas dissipadas que vagueiam dos meus olhos para minha boca. 
Minhas mãos, estas já estão sem querer escrever, mas meu coração lhe ordena.
Logo pego-me escrevendo novamente".


Cortês - Pernambuco, sábado, 11 de agosto de 2012.

abraço paterno / fábio de carvalho


abraço paterno. / fábio de carvalho


Senti o aconchego das mãos protetoras
Vi-me tão contente, olhei para os céus
Falei em pensamento “Deus, não és cruel”
Pois tens TÚ me dado mãos acolhedoras.

Quase não contive o distante olhar
Pois cada saudade é algo tão perdido
Como as águas dos mares de segredo contido
Como o céu que contemplo e não canso, é impar...

...o que sinto só eu e Deus para entender!
Mesmo assim não irei adiante sofrer
Pois a dor que consome é missão de Deus, vai...

...logo após me ressurge um sorriso de amor
como o abraço Divino e tão acolhedor
Que me desses um dia... Graças a meu Deus, Pai...


Cortês-PE, sábado, 11 de agosto de 2012.