Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

propensões humanas / fábio de carvalho


propensões humanas / fábio de carvalho


Há necessidade nos dias.
Existem necessidades em todos nós.
De cima cai o sol, a chuva, rodopiam os ventos.
Nunca fui de observar o que surge dos redemoinhos.
As minhas palavras são feitas de som e de silêncio.
Escuto-me no barulho, escuto-me no silêncio.
Analiso tudo e todos, com o cuidado de não exercer julgamentos insanos e desleais.
Se a chuva fosse boa não existiriam inundações.
Se as lágrimas fossem ruins, não choraríamos de alegria.
Cada qual se serve daquilo que sacia sua carne.
A alma sempre fica em segundo plano.
Adoecemos da mente.
Sempre nos esquecemos de nós quando achamos que nos encontramos.
Almejo sempre compreender os pássaros.
Não desejo entender aquilo que o humano se diz ser.
Creio mais nas tempestades do que nas secas, nas estiagens.
Em tempo seco adoeço da garganta.
Em tempo frio adoeço da garganta.
Nada me convence de que as coisas próprias deixam de serem elas mesmas.
Apalpo minhas mãos para sentir o afago próprio das mãos condutoras de tantas linhas imaginárias, indecentes, insanas e puras em divindade.
O mar me basta quando não desejo pisar o chão.
Acontece a mesma coisa quando não quero estar perto do mar.
Abro a porta da minha casa e deixo que o vento entre.
Fico a observar a cortina balançando como a fimbria de um vestido que some na curva de uma parede.
O invisível me deixa pasmo.
As estradas me contrariam quando me confunde nos caminhos.
Cada pedra que surge, quando pequenina, eu chuto.
O sabor da colheita dos sonhos não me repreende de modo abstrato.
O visitar a floresta sinto que deveria ter retornado mais vezes com várias sementes para plantar as margens do rio.
O galo já não canta na cidade grande.
O que me faz ser indiferente e frio é a indiferença alheia e a necessidade de um agasalho em noite de inverno.
Animais dessem rios abaixo submersos às águas barrentas.
Os políticos se deslumbram ao confirmar mais um cadáver vítima de um desabamento qualquer.
Calculam as verbas advindas dos fundos das calamidades.
Os cortes e as navalhas andam juntos.
O veneno da alma é a ganância, a ilusão, o sarcasmo.
A paz que o homem deveria ter deveria ser comparada a dos tubarões martelo.
Logo concluo que o desassossego é o fruto de sementes infindáveis que o homem planta e colhe demasiadamente delirado.
O resto do mundo não é da porta dos fundos da minha casa para o meu jardim.
O mundo para mim sou eu.
Eu sou o espaço.
Eu sou a terra.
Eu sou pó.
Eu fui...

Cortês – Pernambuco, segunda-feira, 13 de agosto de 2012.

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