propensões
humanas / fábio de carvalho
Há
necessidade nos dias.
Existem
necessidades em todos nós.
De cima cai
o sol, a chuva, rodopiam os ventos.
Nunca fui de
observar o que surge dos redemoinhos.
As minhas
palavras são feitas de som e de silêncio.
Escuto-me no
barulho, escuto-me no silêncio.
Analiso tudo
e todos, com o cuidado de não exercer julgamentos insanos e desleais.
Se a chuva
fosse boa não existiriam inundações.
Se as
lágrimas fossem ruins, não choraríamos de alegria.
Cada qual se
serve daquilo que sacia sua carne.
A alma
sempre fica em segundo plano.
Adoecemos da
mente.
Sempre nos
esquecemos de nós quando achamos que nos encontramos.
Almejo
sempre compreender os pássaros.
Não desejo
entender aquilo que o humano se diz ser.
Creio mais nas
tempestades do que nas secas, nas estiagens.
Em tempo
seco adoeço da garganta.
Em tempo
frio adoeço da garganta.
Nada me
convence de que as coisas próprias deixam de serem elas mesmas.
Apalpo
minhas mãos para sentir o afago próprio das mãos condutoras de tantas linhas
imaginárias, indecentes, insanas e puras em divindade.
O mar me
basta quando não desejo pisar o chão.
Acontece a
mesma coisa quando não quero estar perto do mar.
Abro a porta
da minha casa e deixo que o vento entre.
Fico a
observar a cortina balançando como a fimbria de um vestido que some na curva de
uma parede.
O invisível
me deixa pasmo.
As estradas
me contrariam quando me confunde nos caminhos.
Cada pedra que
surge, quando pequenina, eu chuto.
O sabor da
colheita dos sonhos não me repreende de modo abstrato.
O visitar a
floresta sinto que deveria ter retornado mais vezes com várias sementes para
plantar as margens do rio.
O galo já
não canta na cidade grande.
O que me faz
ser indiferente e frio é a indiferença alheia e a necessidade de um agasalho em
noite de inverno.
Animais
dessem rios abaixo submersos às águas barrentas.
Os políticos
se deslumbram ao confirmar mais um cadáver vítima de um desabamento qualquer.
Calculam as
verbas advindas dos fundos das calamidades.
Os cortes e
as navalhas andam juntos.
O veneno da
alma é a ganância, a ilusão, o sarcasmo.
A paz que o
homem deveria ter deveria ser comparada a dos tubarões martelo.
Logo concluo
que o desassossego é o fruto de sementes infindáveis que o homem planta e colhe
demasiadamente delirado.
O resto do
mundo não é da porta dos fundos da minha casa para o meu jardim.
O mundo para
mim sou eu.
Eu sou o
espaço.
Eu sou a
terra.
Eu sou pó.
Eu fui...
Cortês –
Pernambuco, segunda-feira, 13 de agosto de 2012.
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