Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

terça-feira, 20 de novembro de 2012

consciência negra / fábio de carvalho

Foto - Arte-Digital: Fábio de Carvalho


consciência negra / fábio de carvalho

Efêmera e eterna
eras...
escravidão maldita,
que por ganância, 
por intolerância
subjugava a raça dita!

Minguado eras
negro reprodutor
dos lucros e das descendências
advindas do trabalho.
Maldito seja
os donos dos escravos.

Co’as mãos calejadas,
a coluna envergada,
o olhar reflexivo, 
o estômago vazio
a esperar a boa cama
na senzala, seu lugar
para enfim descansar
no chão duro e frio, na lama.

Fostes embora escravizado
Para o quinto de não sei onde.
Hoje voltastes com bem força
Do preconceito que s’esconde!

E em muitos olhares
que são lançados ao preconceito
não imagina, não faz nem conta
do valor que tem um negro
pois por seus braços foi erguido
grande riqueza e trazido
esta cultura que aqui vejo.

Descendente Afro com orgulho
somos e temos o privilégio
de ter nas veias sangue puro
“preto”, “vermelho” e “amarelo”
para enxergar a face dita
do meu país, coisa bonita
Ser negro é isso! Ser negro é belo!


Cortês - Pernambuco
segunda-feira, 20 de novembro de 2006.

domingo, 7 de outubro de 2012

de hoje em diante / fábio de carvalho


 Arte Digital: Fábio de Carvalho


de hoje em diante / fábio de carvalho

Eu não deixei de lado aquelas pessoas que me veem como um reflexo "trans-'parente' " na essência da palavra. 
Eu jamais abandonaria por completo alguma lembrança que em algum tempo representou algo de bom ou de ruim para mim. 
Não tenho certeza de muita coisa.
Nem se meu dia terminará feliz ou infeliz.
Mas com certeza, o sol vai se por, a noite anunciará que a vida também é escuridão, que é preciso descansar e que amanhã será outro dia.
É por isso que me resguardo hoje, ao direito de me reservar daqueles que não interpretam os sentimentos daquilo que escrevo, declaro, deixo tão transparente.
Em um tempo não muito distante deste eu sentia o afago de pessoas a quem adorava visitar, abraçar, dividir momentos importantes.
Mas para minha conclusão meio que sem um riso natural, eu vi que não recebia a saudade que lacrimejava nos meus olhos de volta quando escrevia sobre saudades, lembranças, esperança de reencontrar ao menos em um recado de frase curta, mas natural.
Eu não estou desabafando nem lamentando a falta que me faz a resposta de um recado qualquer que deixo periodicamente; 
Eu sei respeitar o silêncio daqueles que ignoram a minha fala.
É por isso que aprendi a não querer receber de volta o que ofereço com alegria.
É por isso que aprendi a aceitar a frieza de quem recebe meu abraço caloroso.
É por isso que aprendi, tão somente aprendi a saudar e a abraçar com meu olhar, com minhas palavras, com meus braços poéticos todos aqueles que demonstram que mais vale receber a consideração de alguém que lhe quer bem do que ignorar o querer bem de alguém que não recebe se quer a lembrança de uma amizade familiar, parentesca ou de qualquer outro nível de proximidade.
De hoje em diante eu não buscarei mais a resposta que não me foi dada por aqueles que receberam de mim a pergunta que por si só demonstra a lembrança e a saudade da parte desde poeta sem editora, deste Cristão sem Igreja, deste ser que fala hoje por não saber se o amanhã lhe será garantido.
Esperarei pelo tempo na minha cadeira ao lembrar quantas vezes não fui retribuído com o vil-metal da palavra amiga, da resposta saudosa, da comprovação mais natural do querer bem que se prova por meio de um simples gesto. 


Cortês-PE, Sábado, 06 de outubro de 2012.

domingo, 16 de setembro de 2012

Pe. Glauber Alves da Silva, Um divisor de águas à História de Cortês / Fábio de Carvalho

Foto: Fábio de Carvalho - Cortês - PE, domingo, 16 de Setembro de 2012.



 Pe. Glauber Alves da Silva, 
Um divisor de águas à História de Cortês. 

autor / fábio de carvalho

Durante nove anos ausente da comunidade de Cortez, hoje, como um retorno quase que eterno, os paroquianos deste município foram prestigiar a primeira missa do primeiro padre nascido e criado na cidade do rio e das serras, o reverendo Pe. Glauber Alves da Silva.

Se a minha tia Irene Carvalho fosse viva fisicamente, católica do jeito que era, certamente iria até lá levar-lhe uma lembrança singela e de bom grado como sinal de boas novas a este momento histórico do nosso município.

A cidade de Cortez se preparou no sábado, dia 15 de setembro para prestigiar no domingo, dia 16 de setembro de 2012 aquele que abriria o caminho para outros padres filhos da minha amada terra. Desde cedo, anunciou-se logo após a feira livre o fato que estava prestes a acontecer. 

Muitos comentavam que Dona Lica, a mãe do saudoso padre de 29 anos de idade apenas, deveria estar muito orgulhosa por saber que no seu ventre, foi gerado um servo do Salvador. Certamente, ela deveria encontrar-se em estado de graça ao imaginar isso também. 
O domingo surgiu com um sol medonho. Se brincasse, o sol que fez no pico de meio dia daria para esquentar a água do leite. Tudo foi favorável para o evento que marcaria a história de 16 de setembro de 2012 na Paróquia de São Francisco de Assis durante o mandato do impoluto Padre Josenildo Pedro, filho da nossa vizinha Ribeirão. 
Os bancos e cadeiras da matriz estavam todos repletos de fiéis de todas as idades, curiosos, simpatizantes, evangélicos, autoridades constituídas, visitantes, pessoas sem religião, religiosos de outras paróquias e por que não registrar a presença da Irmã Lourdes também filha da nossa cidade, de um encargo tão dedicado e de colheita vasta e referencial?

Todos que ouviam eram agraciados com a voz daquele que fazia nascer em 16 de setembro, novos conceitos de religiosidade íntima, novas maneiras de enxergar o ato de fé e de dedicação, pois diante de um fato histórico como aquele, foi possível ver em nossa Cortez, o surgimento de mais uma graça, aquela que seria o divisor de águas para com a realidade de fé e de exemplo Cristão em nosso município, pois se por um lado, segundo o relato popular, em tempos distantes, o saudoso Frei Damião não pisou em nossa terra por ver nesse chão duas cruzes de sangue em frente a matriz da nossa cidade, por outro, em anos posteriores – o presente – nós cortesenses vemos o nascimento de um padre ungido palas mãos de Deus através do Bispo Dom Genival na cidade de Palmares dois dias anteriores, precisamente em 14 de setembro. 

A expressão do Frei talvez tenha sido mal interpretada, pois o coração jamais nos priva de sentir aquilo que ele nos transmite. A minha tia Irene Carvalho me falava em domingos de conversas, que as cruzes de sangue citadas pelo eclesiástico que muitos falavam que era o sangue da violência que pairava em nossa terra, eram duas importantes figuras religiosas de Cortez, onde uma já existia e que a segunda ainda viria para fechar o primeiro ciclo de bênçãos da comunidade católica cortesense, ou seja, o divisor de águas da profissão de fé. 

Cortez viveu mais essa experiência. Não foi como os tempos antigos, que as cidades festejavam com imensas mobilizações a ordenação de um ou de mais um padre, mas como o tempo muda e as pessoas mudam com ele, Cortez também mudou quando sentiu que aquele garoto que brincava de ximbra e de salta-degraus na escola Mário Domingues, que estudou nas escolas Andréa de Aguiar e no Abigail Guerra, como ele fez questão de citar, que chorou ao agradecer a mãe por ela ser tão bondosa, enfim, que despertou a sua certeza de fé quando aos 20 anos percebeu seu interesse em ser um Sacerdote de Deus e do povo, ao viver experiências nos grupos de jovens da paróquia, o JURAC, o Coral Irmãos de São Francisco, a Legião de Maria.

Com certeza, a bênção que faltava para Cortez foi concedida por Deus no dia 16 de setembro de 2012 quando o filho da terra retorna com seus “paramentos ungidos” pelo Criador para demonstrar seu exemplo de comunhão e que fez questão de dizer que é venturoso por ser de Cortez. 

Hoje, Cortez vive seu renascimento, sua nova vida, completando assim, idade nova nas datas de 29 de dezembro, dia e mês da sua emancipação política (em 1953) através do senhor José Valença Borba e hoje, 16 de setembro, dia que ressurge em nossa cidade sua nova etapa, pois esse fato histórico foi permitido por Deus através dessa divina bênção que foi conceder a comunidade de Cortez o padre filho daqui: Revdo. Pe. Glauber Alves da Silva. 


*
Relato de Josivaldo Barreto: "Fazia mais de 10 anos que eu não assistia a uma Missa"

Cortez – Pernambuco, domingo, 16 de setembro de 2012.

domingo, 2 de setembro de 2012

construindo e reconstruindo / fábio de carvalho


Meu lar original. 
Casa de Tia Irene Carvalho (*1º.05.1918/+16.05.2008) onde residimos e onde permaneço. 

construindo e reconstruindo / fábio de carvalho

Pela visão da casa, a velha-nova casa que por muitos anos residi com minha amada tia Irene Carvalho, reconstruo um passado zeloso, onde por vezes, comparo a evolução das coisas com a diferença notória do ambiente. Reconheço que cada época merece o ritmo natural baseado no percurso traçado, contudo, aceito a história mais remota de minha época com minha segunda mãe, época onde me desvelei com o modelo invejoso de criação, visto que por naturalidade individual que era da alma de minha conselheira, adquiri muitos traços genéticos internos, haja vista, sendo sessenta e seis anos mais velha do que eu, idade que jamais pré-julguei tradicional, demonstrava em conversas aconselhadoras sua maturidade moderna e pós-moderna. Boa parte da minha formação resume-se aos momentos vividos à Avenida São Francisco. Desde menino, me vi preso àquela “velha” de uma maneira mui especial. Quando se veste uma roupa apertada logo se nota a diferença, pois era assim que eu me sentia quando não fazia uma visita a minha amada e singular tia... Mudei-me! Fui morar com ela; dei-me conta de que deveria escrever boa parte da minha história ao lado da mãe adotiva de não sei quantos sobrinhos. Fui mais um. Acredito que, sendo eu o ultimo a ir morar com ela por livre e espontânea vontade, ocupei o lugar de décimo oitavo. Assim fiz, e, não me arrependendo de minha decisão, hoje me encontro no recinto da minha infância. Casa modificada é bem verdade, mas não há acordo nenhum para apagar as lembranças vividas neste lar. Algumas posso afirmar, que são revividas, talvez por muitas vezes, observar a posição dos quartos, o quintal que ainda possui uma percentual originalidade, e os vizinhos dos dois lados... A época mudou. Muito suor derramado para reconstruir um novo lar no lar original. 

“Incrível a asa do tempo, que afasta de nós o que mais amamos. Porém, mais incrível é a asa da saudade, que conserva na memória os passos de outrora que explicam nosso presente”.

Saudade inexplicável...


Cortês-Pernambuco.
Domingo,18 de Janeiro de 2009.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

a razão que me alimenta / fábio de carvalho





a razão que me alimenta / fábio de carvalho


Logo compreendo que não sinto necessidade de ignorar as pedras.
Os tropeços nos são necessários para sentir a suavidade do chão.
A nossa alegria se desvanece sem ideal nem compromisso.
Meu sossego é como uma folha que corre chão a fora sem que ninguém perceba.
Sei que nos caminhos veremos pedras, folhas secas...
Sei também que não necessito observá-las como deficiências naturais ou devaneios imaginários.
Cada passo que se dá se espera o próximo, mesmo que existam pedras ou penhascos.

Eu me desencontro sempre que escuto a sonoridade da natureza.
Penso que estou só no meio das folhagens, dos abacateiros, ouvindo cigarras cantarolando...
...ou vindo garras dos animais humanos ao meu encontro.

Sinto que pelo caminho hei de compreender tudo sem que a razão me explique.
Minha razão é de pedra, de gás, de sonho, de neve...
Minha razão é temporária como os dias que vem e se despedem...

Os dias sempre se despedem sem que percebamos.
Um dia nos despediremos dos dias...

...também...


Cortês - Pernambuco
Segunda-feira, 20 de agosto de 2012.


puras em essência / fábio de carvalho

LINK DA IMAGEM CEDIDA POR  Líria Porto 
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=348501108566459&set=a.247909438625627.60391.100002197187730&type=1&theater&notif_t=comment_mention


puras em essência / fábio de carvalho

Pés de Anjo tão singelos
É o que ver-se de primeira
Depois se vendo, é bem certeira
O retrato que mostra. Belo...

É o ambiente talvez seco
Pel’aspereza dessas folhas
Que deixam triste e sem escolha
Um’alegria, mas um beco...

De sugestões talvez poéticas
Nos é indicado, talvez pescas
De sentimentos puros, aceitos...

...por quem fitar essas mãos puras
Que afastam todas amarguras
E faz um bem ao nosso peito...

Cortês – Pernambuco
segunda-feira, 20 de agosto de 2012.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

caravelas / fábio de carvalho



caravelas / fábio de carvalho


Vejo de longe uma caravela se dissipando no mar.
Vai-se meu pensamento para longas lembranças.
Cumpri muitas promessas, muitas penas.
Senti a dor de tantos momentos intrincados.
Nenhum sentimento de dor supera a de olhar um barco indo para o desconhecido.
Pelas minhas decepções pude compreender coisas sobre o tempo e sobre a cura de si mesmo quando mágoas nos acometem sevas penalidades.
Ainda assim vejo barcaças se despedindo, navios partindo para sempre.
No mar que a vida reserva para nós, os navegantes, marinheiros e almirantes, encontramos naufrágios, rochas solitárias, ilhas de desenganos...
Não é possível concluir muitas coisas.
No mar ou se arrisca ou perde-se para sempre.
Nas noites, quando as tempestades chegam, a melhor coisa a fazer é chorar com ela.
Não venceremos suas lágrimas, mas falaremos a mesma língua, e quando se fala a mesma língua de alguém que se teme, sentimo-nos inferiormente ameaçados.
Importante ou não, as canoas que se vão para as conquistas do além-mar, me causam imensas e desconcertantes sensações de angústia...
Lá se vão...
Homens de barbas enormes, com o coração cheio do lodo da experiência.
Nos rochedos de alto-mar, encontramos água doce nas suas locas no alto da proa.
A ponta do arpão lembra a qualquer um a dor da navalha que o sentimento de ida sem volta nos faz sentir.
Quantos chapéus não foram lançados ao mar no ato da despedida?...
Quantas lágrimas foram ao encontro das águas também salgadas ao cair dos olhos almirantes daqueles que travaram a mira de um olhar de sonho e de interrupção causada pelo destino?...
Não compreendo diante de um navio, no cais, no momento da partida, a sensação da despedida.
Quantos de nós não se despedem todos os dias no cais destino?
Talvez o peso da distância que se revela a cada metro de costa percorrido nos faça perceber que a noção de distância e de dimensão seja apenas temporária...
Há quem afirme cegamente que para ver quem se deseja basta fechar os olhos.
O coração reage avesso a frases conformistas.
O dom dos navios é levar para longe, felicidade...
O cais é mais um desses lugares que faz de fins de tardes, de inicios de noites de lua cheia, de amanheceres únicos, momentos eternos de sonhos, de saudades, de eterna angústia...
Talvez não seja aconselhável visitar o cais, os navios que estão de partida ou até mesmo as barcarolas feitas de papel para serem lançadas nas costas em dias de marés afoitas.
Tudo que é ligado ao mar traz-nos lembranças impreteríveis e um vago inexplicável.
Tais desafetos, deixemos para poetas incultos...
...estes são os escultores da memória triste, os inventores das intermináveis estradas sem rumo e sem saída...



Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 15 de agosto de 2012.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

eu deveria saber... / fábio de carvalho

Foto: Fábio de Carvalho - Acervo Pessoal.


eu deveria saber... / fábio de carvalho


Quando eu percebi que a maré havia baixado, o sal das águas já havia ressecado meus pés.
Percebi que meu olhar estava um tanto quanto desatento.
Não lamentei o beijo perdido da última onda naquela tarde, lamentei ter sido desatencioso.
Vi que não poderia voltar atrás e conclui que muitas ondas viriam novamente, menos aquela. 
As ondas são eternas reconstituições.
As ondas diluem-se e no encontro com águas dispersas, formam-se de novas gotas, de essência talvez singular de segundos de vida, apenas...

Eu reconheci as minhas imperfeições naquela tarde.
A falta de atenção, a primeira delas.
A chegada de um vazio me fez reconhecer que somos cheios daquilo que nos debilita e nos descaracteriza.
A maior de todas as imperfeições identificada em mim por mim naquelas horas derradeiras da tarde, foi o meu desprendimento próprio para com as coisas naturais.

Cada um pode buscar em si aquilo que nos deixa de lado por nós próprios.

Observei que antes do sol ir-se para um lugar qualquer, ele beijou o mar.
O mar acenou com o braço da onda sorrindo espumas da cor da paz.
Da orla eu me via sozinho...
...onde o mar, talvez vilipendiado, na inquietação de maré baixa, lembrou-me de várias coisas que eu deveria saber...
Uma delas foi à importância de enxergar as coisas ao meu redor. 

Cortês - Pernambuco, terça-feira, 14 de agosto de 2012.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

propensões humanas / fábio de carvalho


propensões humanas / fábio de carvalho


Há necessidade nos dias.
Existem necessidades em todos nós.
De cima cai o sol, a chuva, rodopiam os ventos.
Nunca fui de observar o que surge dos redemoinhos.
As minhas palavras são feitas de som e de silêncio.
Escuto-me no barulho, escuto-me no silêncio.
Analiso tudo e todos, com o cuidado de não exercer julgamentos insanos e desleais.
Se a chuva fosse boa não existiriam inundações.
Se as lágrimas fossem ruins, não choraríamos de alegria.
Cada qual se serve daquilo que sacia sua carne.
A alma sempre fica em segundo plano.
Adoecemos da mente.
Sempre nos esquecemos de nós quando achamos que nos encontramos.
Almejo sempre compreender os pássaros.
Não desejo entender aquilo que o humano se diz ser.
Creio mais nas tempestades do que nas secas, nas estiagens.
Em tempo seco adoeço da garganta.
Em tempo frio adoeço da garganta.
Nada me convence de que as coisas próprias deixam de serem elas mesmas.
Apalpo minhas mãos para sentir o afago próprio das mãos condutoras de tantas linhas imaginárias, indecentes, insanas e puras em divindade.
O mar me basta quando não desejo pisar o chão.
Acontece a mesma coisa quando não quero estar perto do mar.
Abro a porta da minha casa e deixo que o vento entre.
Fico a observar a cortina balançando como a fimbria de um vestido que some na curva de uma parede.
O invisível me deixa pasmo.
As estradas me contrariam quando me confunde nos caminhos.
Cada pedra que surge, quando pequenina, eu chuto.
O sabor da colheita dos sonhos não me repreende de modo abstrato.
O visitar a floresta sinto que deveria ter retornado mais vezes com várias sementes para plantar as margens do rio.
O galo já não canta na cidade grande.
O que me faz ser indiferente e frio é a indiferença alheia e a necessidade de um agasalho em noite de inverno.
Animais dessem rios abaixo submersos às águas barrentas.
Os políticos se deslumbram ao confirmar mais um cadáver vítima de um desabamento qualquer.
Calculam as verbas advindas dos fundos das calamidades.
Os cortes e as navalhas andam juntos.
O veneno da alma é a ganância, a ilusão, o sarcasmo.
A paz que o homem deveria ter deveria ser comparada a dos tubarões martelo.
Logo concluo que o desassossego é o fruto de sementes infindáveis que o homem planta e colhe demasiadamente delirado.
O resto do mundo não é da porta dos fundos da minha casa para o meu jardim.
O mundo para mim sou eu.
Eu sou o espaço.
Eu sou a terra.
Eu sou pó.
Eu fui...

Cortês – Pernambuco, segunda-feira, 13 de agosto de 2012.

domingo, 12 de agosto de 2012

monólogo refletido contra o espelho da prataria / fábio de carvalho


monólogo refletido contra o espelho da prataria / 
fábio de carvalho

O latifúndio aí estar.
Sempre quis andar pelos caminhos.
Jamais serei o que não sou.
Busco em mim aquilo que não encontro nos outros.
Busco as horas;
Elas me são necessárias.
Meus lamentos são de uma alegria assombrosa.
O colarinho dos políticos não é branco, invisíveis, creio.
A escuridão celeste me faz sentir saudade da luz do sol.
O frio me faz lembrar o verão borbulhante.
Saio pelas ruas sem destino.
Meus pensamentos não tem rumo.
Minha sabedoria vem de onde não surge cegueira humana.
Os passos dos outros também são meus.
Meus pés suportam muita caminhada ainda.
Meus olhos, como quem não quer nada, se fecham com o sono.
A insônia me ajudou a escrever muitas páginas que me acompanham.
O sereno da noite é irreal quando se busca o irreconhecível. 
Cada palavra que pronuncio já foi escrita.
Os meus sonhos me vem quando durmo.
Logo as minhas palavras pensadas se vão por novos pensamentos se achegarem até mim.
Meu reflexo interior me é desconhecido.
Sou uma pessoa simples.
Escrevo muito, sem me dar conta da quantidade de páginas.
Sufoco a mim mesmo quando dou longas tréguas à literatura.
Rego meus dias com a água da terra.
Não costumo me prestar a serviços irrelevantes.
Abomino tristezas visuais.
O meu sofrimento é quase eterno.
A minha alegria é infinita.
O sossego é irrelevante quando se possui melancolia.
As minhas incertezas fazem parte das minhas indecisões.
Algo estar para acontecer.
O mundo não suporta mais tantas injustiças.
Meus inimigos se dão bem e mal.
Minhas promessas são acorrentadas pelo tempo.
O que acredito é que quem dorme bem nem sempre descansou o necessário.
Cabe ao mundo respirar.
Caberá a nós morrer sufocado com o pulmão do mundo inflamado...


Cortês – Pernambuco, domingo, 12 de agosto de 2012.

gosto de vida / fábio de carvalho


gosto de vida / fábio de carvalho


O gosto da areia não tem gosto.
Sabe lá o porquê de tanto arranhar em nosso paladar.
Não tinha costume de provar o gosto de pedras, terra, barro...
Fui me acostumando para assim, poder sentir a realidade das coisas.
Nunca pensei que dentro do mar existisse água doce.
Eu pensava ingenuamente, pois como eu não sabia, compreendo que não estava errado, sabia que pensava certo, pois o certo para nós, é aquilo que temos conhecimento. Se eu não possuía a informação correta, o correto para mim era aquilo que eu compreendia ingenuamente.

Fui até a beira da praia para degustar o sabor de uma aurora nebulosa.

Eu não sabia que a neblina das montanhas não tinha gosto de gás...
Sabe Deus o gosto daquela nevoa natural, daquelas cortinas que agasalham as matas e escondem os bichos dos seus predadores.

Como eu não sou um descobridor, um interprete nem um vasculhador enigmático, buscarei apenas compreender sobre a minha ótica, pois assim, não tentarei encarar o sol para que seus raios não cegue os meus olhos com sua luz que nos ajuda a enxergar...

Conheço meus limites...


Cortês - Pernambuco
Domingo, 12 de agosto de 2012.

sábado, 11 de agosto de 2012

a revolta do mundo não cabe em mim... / fábio de carvalho

 "a revolta do mundo não cabe em mim..." / fábio de carvalho


"O mundo não cabe em mim... 
A natureza basta aos meus olhos. 
Cada dia que se achega, que se apresenta a mim, compreendo-me mais; (...)
...e sabendo que nunca me compreenderei por completo, seguirei carregando o que meus olhos contemplar e o que a natureza me oferecer.
Já não vivo satisfeito no mundo, pois o mundo é largo e escasso como minha cegueira interior, como minha salgada risada submersa em lágrimas dissipadas que vagueiam dos meus olhos para minha boca. 
Minhas mãos, estas já estão sem querer escrever, mas meu coração lhe ordena.
Logo pego-me escrevendo novamente".


Cortês - Pernambuco, sábado, 11 de agosto de 2012.

abraço paterno / fábio de carvalho


abraço paterno. / fábio de carvalho


Senti o aconchego das mãos protetoras
Vi-me tão contente, olhei para os céus
Falei em pensamento “Deus, não és cruel”
Pois tens TÚ me dado mãos acolhedoras.

Quase não contive o distante olhar
Pois cada saudade é algo tão perdido
Como as águas dos mares de segredo contido
Como o céu que contemplo e não canso, é impar...

...o que sinto só eu e Deus para entender!
Mesmo assim não irei adiante sofrer
Pois a dor que consome é missão de Deus, vai...

...logo após me ressurge um sorriso de amor
como o abraço Divino e tão acolhedor
Que me desses um dia... Graças a meu Deus, Pai...


Cortês-PE, sábado, 11 de agosto de 2012. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

o pão da terra... / fábio de carvalho (10/07/2012)




o pão da terra...  / fábio de carvalho

...e no meio de tanta terra
Pensei: __Como pode?
Em um útero não cabe tanta terra!
Creio que quem possui tudo que vejo,
ou explorou ou ganhou na “mega-sena” da vida.
Mega cena aquela que pude contemplar.


Pessoas dizendo __ “Isto é meu”.
Outros dizendo  __ “Mais isto aqui é meu...”
E a paisagem vai se formando.

Prédios de solidã,
Luzes de obscuridades nas metrópoles,

Carros andaluzes sem destino louvável,
Capital da covardia e das visões imperfeitas.

Pude ver muito mais coisas...
Vejo sempre coisas quando leio e releio pensamentos transformados em poemas,
em literatura...


Ainda assim consigo enxergar as banalidades sequiosas como coisas naturais:
__Uma planta que morre por falta d’água,
uma criança que morre por falta de comida,
um filho que enlouquece aos poucos pela falta de aconchego familiar...
...prostíbulos sacerdotais e injúrias desafetas contra as imperiosas e leais elites dos prazeses dos pecados capitais.

Luxuria de prazeres que parte dos olhos e culmina com a arrogância em comer até estragar.
Muitos jogam as migalhas da sua condenação.
Cada rato humano se dissipa de acordo com a falta de um saneamento digno.
Mas não!
Me engano...
Os ratos se proliferam a cada dia.
Não veem?!!!
Contemplem os saneamentos a ceu aberto.
São os retratos da covardia daqueles que comandam o país.
Nesta terra onde a Democracia reina dentro das casas dos DONOS dos partidos políticos.

Nossas crianças crescem vendendo seus votos ou trocando por comida.
Cada livro doado é a imprecisão covarde daquilo que nunca desejam ver acontecer como o futuro do nosso povo.
As piabas abrem suas bocas e fecham.
Graciliano Ramos transcreveu tal cena quando fez “Baleia” – a cadela de estimação da família – saciar a fome daquela pobre e infeliz linhagem sertaneja do Brasil.
Quantos Gracilianos ainda existem?
Quantos são vistos e reconhecidos?
Quantas “Baleias” de terno sentimento e retrato fiel do nosso país?

Por quê será que devem existir tantas “Baleias” por aí?
Quantas famílias das “Vidas Secas” ainda existem por aí, por aqui?.
Por quanto tempo veremos estas paisagens?
...estas “Baleias”?
...estas famílias?
...estes covardes?


Cortês – Pernambuco, terça-feira, 10 de julho de 2012.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

sem sentido / fábio de carvalho (02/07/2012)


Arte: "Sem Sentido" (Fábio de Carvalho) - Cortês - Pernambuco, 06/07/2012.

sem sentido / fábio de carvalho 

Nada de segredos;
Nada de saudações...
Pois em meio a esses enredos
Já se ferem os corações...
Palavras de rebeldia
que avassalam na noite e no dia
a paz pregada às nações...

Tudo já está sendo mesmo em vão...
A promessa firmada no templo,
a palavra assinada co’a mão.
Até mesmo a brisa que do vento
traz pra nós o que acende o canhão
que prepara a guerra para a paz
garantir neste mun’d’ilusão...

E diante de qualquer paisagem
não nos vem qualquer traço de amor.
Longe está a cordialidade,
a doçura e qualquer bom sabor.
Este é o mundo repleto de grades,
comandados por muitos covardes
que abominam paz e puro amor.


Cortês – Pernambuco, segunda-feira, 02 de julho de 2012.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

a clandestinidade do ser... / fábio de carvalho (21/06/2012)




 a clandestinidade do ser... / fábio de carvalho 

Existem momentos em que trocamos a euforia da conquista pela angústia que dilacera o nosso peito.
Porque muitos momentos da nossa vida são apenas ânsia e incompreensões pessoais. 
Não se compreende palavras simples, gestos complexos, não se aceita o barulho do vizinho, não se dorme mais durante a noite...
Conversas só se forem em monólogos.
Luz, só se for à do fosforo que acende a luminária em forma de candeeiro ou o fogão para preparar o precioso café, o néctar dos deuses...
Nada custa para nós quando estamos de coração feliz, com o rosto estampado de satisfações, porém, se sabe que toda fisionomia é instantânea...
Cada qual compreende as palavras que surgem casualmente nos dias em que se criam discursos superficiais.
Para cada situação existe uma contrarrazão. 
Eu não sou de procurar compreender as contrarrazões dos fatos, das pessoas, vida comum ou complexa.
As minhas queixas geralmente faço-as contra mim mesmo.
Não tenho queixa de ninguém e abomino interjeições desconcertantes.
Às vezes me pergunto o porquê de tanta importunação de umas pessoas para outras, se na maioria das vezes carregamos obscuros segredos.
Também não sou contra os segredos, pois se não se pronuncia algo acerca das coisas passadas ou propícias de acontecerem é porque a pessoa achou por bem não divulgar ou cogitar. 
Penso que no tempo em que não se encontrar os motivos para se concretizar a vida feliz, o entendimento de um sorriso sincero, as dúvidas que nem as experiências da longa vivência nos ajudem a decifrar e a falta de vontade ou a ausência de razão em querer conversar acerca das coisas do nosso meio, é porque aquilo que nos foi proposto pela vida já se concretizou como o destino das pessoas se concretizam todos os dias.
Hora! Eu não posso imaginar o contrário...
Muitos poderiam dizer que seria uma possível depressão...
Na minha visão, acredito que o meu café quente pode queimar aminha língua como uma palavra pode afetar diretamente o coração de alguém ao ponto de provocar-lhe um enfarto. 
Quando o nosso compromisso com o que nos foi de grande valia for cessado, logo compreenderemos que alcançamos os limites do cais destino...
Por isso, veremos cedo ou tarde que os frutos caem das árvores em estações diferentes, em dias diferentes, em horas diferentes, em lugares diferentes...
Como não pensar que cada um agirá de acordo com os anos e as experiências incomuns que lhes garantirá a análise própria e casual de tudo àquilo que lhe for desempenhado analisar?...
É por isso que chegará a hora que análises não farão mais sentido algum.
O nascer do sol será noite e o cair da noite será dia...
Quando pensarem que precisamos ir para tal destino, compreenderemos que não, que os caminhos já foram traçados e que a realidade é bem diferente da vida do quarteirão, do bairro, da cidade...
Quando sentirmos isto, ficaremos desambientados com tudo e com todos.
A vantagem maior será saber que quando pensarem que você deverá ir, você já voltou, mesmo que isto não faça diferença alguma...
Certamente, eu já não dou a devida importância ao barulho do cachorro que late de alegria quando me vê.
Ainda assim, acreditando que se um ato de isolamento é fruto de vários atos na coletividade, penso que penso certo, porque muitos são os instantes vividos de diversas maneiras e em diversas situações...
Talvez viver na clandestinidade de si mesmo não te frustre tanto, não magoe tanto a si mesmo, não te faça imaginar tantos absurdos...
Na verdade, todos um dia viverão na clandestinidade de modo imperceptível.
Diante dessa situação, não me vejo daqui a um breve tempo sorrindo para o pássaro que me reclama o alimento diário não colocado em cima do muro ou até mesmo as reclamações dos vizinhos por não terem ouvido mais soar meu violão do meu quintal.
Dos pesos que a minha mente carrega esse é o menor deles...
Agora me calarei. 
Vou refletir um pouco acerca desse meu ato insignificante.
É isso...
Um dia nós todos seremos insignificantes...

Cortês – Pernambuco, quinta-feira, 21 de junho de 2012.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

penso coisas... / fábio de carvalho (18/06/2012)




penso coisas... / fábio de carvalho


Penso que preciso de uma rosa, não importa a cor, o que importa é que ela seja doce como sua maciez e que me advirta com os seus espinhos.
Penso que necessito de uma noite assim como careço do dia, na mesma medida, no tempo ideal, onde a importância maior é que antes do dia eu viva a noite com a esperança de enxergar o dia que se prepara e com a mesma expectativa de poder viver o dia presente, a espera da noite que se aproxima.
Penso as vezes que não preciso mais de nada.
Sonhei em ver o nascer do sol tantas vezes...
Perdi a conta de quantos horizontes pude ver.
Talvez eu não mais precise ver horizontes.
Talvez eu precise de coisas mais diferentes e abstratas, que me faça sentir aquilo que não compreendo e viver coisas que não espero.
Penso ainda que necessito mais da natureza do que mesmo das pessoas que me rodeiam, pois sendo eu eterna solidão nos meus porões literários, me revisto de um livro que nunca foi lido e que jamais será conhecido.
Penso que em situações de amargores indissolúveis, a minha alma necessita mais do chão da terra do que das nuvens dos céus, pois ao menos posso tocar o chão, e o céu só posso sentir quando o contemplo.
Penso que as minhas mãos não mais necessitam de lápis, que meu espírito poético não necessita de novos encontros com a natureza para nutrir-me de novas inspirações, que a minha nuca não necessite do meu velho coçar vicioso e que as minhas pernas não acham conveniente poder caminhar pelos mesmos lugares...
Penso que preso a ideias de lembranças, estarei tentando reviver meu passado sofrendo duas vezes, ou sendo feliz duas vezes, onde na calada da noite, esse vicio se repete trazendo-me novas velhas lembranças...
Assim, sofro duas vezes mais do que as duas primeiras vezes, sabendo que as minhas lágrimas, quando escorrem, deslizam por novas fendas do meu rosto, enclausurando assim a minha vaga felicidade.
As minhas lágrimas escorrem como se um riacho escorresse diante de mim, em busca do esvaziamento de si mesmo ou do encontro de novas águas.
Penso que represento muito para mim, ainda...
Pensando isto, acredito que quando eu me for, sentirei saudades de mim como a primavera sente falta das flores ou como a aurora e o ocaso sentem falta do sol e da lua, que diante um do outro se cumprimentam no espetáculo do cruzamento do dia noturno e da noite diurna.
Não sei se me faltam palavras para pensar que talvez eu necessite de novas palavras para escrever, de novos cenários naturais para contemplar, de novos caminhos para trilhar, de sonhos incomuns para meu mundo surreal e distante daquilo que todos veem ou acreditam que veem...
As minhas aspirações, todas elas, são metamorfoses que me fazem sentir algo que nunca soube que iria sentir...
É por isso que nos meus porões literários, escrevo páginas submersas, frases alquimistas que só eu às vezes compreendo, pensamentos de extrema escuridão luminosa, pois só os olhos da alma podem enxergar, convicções não tão definidas e definições extremamente imperfeitas ao ponto de eu querer reinventar meus escritos sempre que acho por bem...
Talvez as minhas vontades sejam coisas adequadas para manchete de página de jornal vencido ou de horário político ideal...
Mas creio com toda a força de uma formiga que ergue seu peso por volta de cinquenta vezes, que se eu pensar que não preciso mais de mim, a minha saudade das coisas que não me fará tentar recriar o meu legado como faz o tempo, os dias, o destino...
Espero pelo tempo...
Ele me traz todos os dias pela mão e me entrega com o sol, com a lua...
E assim vai tecendo o meu destino...


Cortês - Pernambuco, segunda-feira, 18 de junho de 2012.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

minha anulação / fábio de carvalho (23.05.2012)

"..sinto que se eu for de fato a anulação presente, serei menos, serei metade, não serei aquilo quem desejei ser". (Fábio de Carvalho)





minha anulação / fábio de carvalho

Talvez eu não saiba interpretar o que o tempo me omite.
A omissão do tempo é às vezes um exame de consciência.
Como as horas passam, eu fico a lembrar dos dias tão longos e perfeitos, pois são eles quem geram os meses e os anos...
A cada ano que passa a minha caminhada se adequa as minhas buscas.
Seja eu um passo final, o último, a reticência sem exagero.
Mas sinto que se eu for de fato a anulação presente, serei menos, serei metade, não serei aquilo que desejei ser.
São os retornos de mim que me fazem reencontrar comigo, porém, sem mim, eu permaneço enquanto não me ver no recomeço.
Talvez meu recomeço seja anulado.
As minhas imperfeições e medos me fazem crer que cada um possui as estradas por igual.
Percorri muito a esperar...
Esperei demais percorrendo...
Agora vou aguardar um novo caminho.
Guardarei para mim o agora duvidoso.
Preciso encontrar algum atalho...

"Como as horas passam, eu fico a lembrar dos dias tão longos e perfeitos, pois são eles quem geram os meses e os anos..."
Fábio de Carvalho

Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 23 de maio de 2012.

longe de mim mesmo / fábio de carvalho (30.05.2012)



"Eu jamais soube que é mais fácil procurar objetos perdidos do que a alma da gente... Mesmo ela estando dentro de nós..."
                                                        (Fábio de Carvalho)










longe de mim mesmo / fábio de carvalho

Certa vez senti saudades de mim...
Foi triste!
Procurei me encontrar e vi que me perdi de mim por algum tempo.
Aprendi que às vezes as procuras são dolentes...
Sabe Deus aonde vamos para quando perdemos os caminhos de volta.
Até os atalhos que não são muitos, parecem esconderem-se de nós.
Eu jamais soube que é mais fácil procurar objetos perdidos do que a alma da gente... Mesmo ela estando dentro de nós...
Não se sabe por que, creio, mas sei que crer que um dia saberei me valerá muito.
Na distância de si se descobre tantas coisas...
...a importância de se encontrar...
...a dor de estar só...
...o desprendimento do mundo exterior com o interior...
Cada ilusão que surge possui a essência do dia que planejamos ver raiar;
Quem sabe se veremos o sol do dia que promete surgir?...
Estando só, perdido de si, se imagina algo que não se explica;
Tolhe-se, sangra-se, contamina-se, desilude-se, desespera-se, escasseia-se... 
Um turbilhão de descontentamentos que surge da alma e premeia-se no olhar vaga no contemplar de si mesmo ao ver-se que algo se perdeu em si e que encontra-se em si mesmo...
Talvez a busca incessante de si mesmo nos faça reconhecer que cada perca significa uma semente de luta, de busca, de esforço, de coragem que brota da esperança...
Acredito que todos nós devemos nos perder algum dia para saber decifrar os enigmas dos desencontros, descrever as emoções dos reencontros, e assim, poder mensurar a vagueza que um dia de chuva tempestuoso nos causa quando sentimos frio e não possuímos um cobertor, apenas a janela para, ansioso, esperar a chuva cessar e silenciar para um melhor refletir...
O meu desencontro me mostrou o medo que sentimos quando apertamos a mão da distância...
Quando apertei a mão do abismo do meu desencontro, pude perceber como é de valor a presença...
Seja ela qual for...
Toda presença me faz sentir confiança...
e...
...uma certeza que ela me traduz a voz que silencia na madrugada escura...
Mas que leva de mim o susto que me impossibilita de enxergar de olhos fechados a escuridão da mente que meus olhos produz...
Mas é assim...
Quando estou longe de mim mesmo sei que valerá...
Pois minha busca por mim mesmo se inicia sempre que sinto saudades de mim...

Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 30 de maio de 2012.

domingo, 20 de maio de 2012

soneto sem título / fábio de carvalho (22.01.2012)

Minhas Artes




soneto sem título / fábio de Carvalho


"Quantos dias se passam...
quantas horas se vão...
quantos momentos se distanciam...
quantos minutos nas mãos...


Quantas maneiras para sorrir...
quantos tipos de felicidades...
quantas artimanhas para demolir
tudo que é maldade...


Nada sem propósito
Tudo com um desejo
para um dia alcançar...


...aquilo que nos faz mórbidos
em instante puro, tal ensejo
nos fará como ouro brilhar!


Cortês-Pernambuco, quarta-feira, 22 de janeiro de 2012.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

só hoje... depois de tudo / fábio de carvalho (17/05/2012)


"Certo dia eu tive que decidir qual caminho eu deveria seguir...
De tanto insistir com a pressa aprendi que o tempo ideal é quando o que se desejou, aconteceu..."
                                                                 Fábio de Carvalho




só hoje... depois de tudo / fábio de carvalho

Certo dia eu tive que decidir qual caminho eu deveria seguir...
Tive que rever muitos passos dados, adiar reencontros, enxugar lágrimas de saudades (...);
Nada me fazia querer tomar outra decisão. 
Tudo que me guiou durante muito tempo foi de água abaixo como a correnteza em fendas, contínua.
As coisas que desejei nunca me vieram de imediato, ou nunca vieram, algumas...
Tudo que conquistei me fora erguido no tempo que o destino achou por bem. 
A única saída que encontrei foi a de adiar planos, reviver situações...
Eu jamais pensei que esperar fosse tão doloroso e que nos amadurecesse tanto.
O amadurecimento da espera é talvez, uma espécie de experiência singular, que causa reações diversas em diversas pessoas.
De tanto querer ver o resultado me tornei ingênuo por longo tempo...
De tanto insistir com a pressa aprendi que o tempo ideal é quando o que se desejou, aconteceu. 
Só depois de tantas coisas;
Só após tantos acontecimentos, que antes eu acreditava serem reajustes do destino, vi que aquilo que nos sobra, falta no outro;
Que aquilo que nos faz sorrir tanto, faz ou falta para que a tristeza alheia passe...
Só agora posso reconhecer isto.
Depois de rever tantas decisões;
Depois de adiar tantos passos (...)
Depois de mudar tantos pontos de vista...
Só hoje...
Depois de tudo...

Cortês – Pernambuco, quinta-feira, 17 de maio de 2012.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

o retorno de mim / fábio de carvalho (16/05/2012)





o retorno de mim / fábio de carvalho

O passar de todos os dias me tem ensinado muito.
Eu tenho aprendido acerca do tempo...
Nesses dias, observando a mim mesmo, pude concluir que a cada passo a mais que damos sempre nos resta um passo a menos.
Vi que meu reflexo me transmite a incerteza do amanhã, ou do meu amanhã...
Sabendo disto, só agora vivo o meu presente como se o amanhã me fizesse uma promessa falsa.
Estando sempre em busca de cada certeza e incerteza, concluí que a certeza minha pode ser a incerteza do outro, e que a incerteza do hoje, poderá ser a certeza do amanhã de cada um de nós.
Os meus dias passados são passados.
A memória da saudade me faz querer acreditar que é possível se reviver o passado.
Sei que não!
Hoje sei que ninguém vive de lembranças ou de saudades...
As lembranças de saudades nos amadurecem e nos faz enxergar as coisas de uma maneira mais aguçada, mais humana.
Desde o dia em que eu vi que cada dia se pode construir algo novo, retornando pra si do passado para o presente, aprendi a lição do desencontro...
Muitas vezes eu senti minha falta.
Perdi-me de mim tantas vezes...
Como foi difícil me encontrar dentro de mim...
Mas agora eu me sinto, de fato...
Hoje sei onde estou.
Tudo isso aprendi e pretendo aprender com os meus dias.
Na desilusão dos caminhos se sofre muito...
Mas o melhor é que tudo se consuma com o tempo.
Essa lição eu aprendi quando me reencontrei...


Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 16 de maio de 2012.