Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

segunda-feira, 5 de março de 2012

o cego paisagista / fábio de carvalho (05/02/2012)



o cego paisagista / fábio de carvalho


Eu tenho desacostumado comigo algumas vezes por me observar mais de perto.
Pensei vagamente, que eu era alguém que reluzia escuridão e obscurecia as luzes matinais...
Nas madrugadas tenho analisado minuciosamente o que eu escuto.
Nessas horas, o silêncio é a voz muda que compreendo com sentimentos de alguém que se sente refém de algo que não está vendo, mas que o sente sem saber o que é...
As fendas do meu olhar não se retraem...
Elas são caminhos que minhas lágrimas percorrem quando julgam necessário.
A necessidade real que sinto em momentos silenciosos é a de que para ouvir-se é necessário ouvir o silêncio.
Quem se escuta percebe a entonação de si próprio.
O algoz silêncio transforma-se em suave melodia.
Não se pode escutar, por exemplo, o canto de um pássaro apenas com os olhos abertos.
Quando fechamos nossos olhos concluímos que muitas vezes, vemos mais as coisas na escuridão momentânea do que se estivéssemos contemplando literalmente aquilo que miramos.
O resultado de enxergar com a mente é a maneira de contemplar com os olhos da alma.
A alma se deslumbra quando fechamos nossos  olhos para imaginar ou mesmo, lembrar de algo que nos fascinou.
Como poder ver sem os olhos abertos?
Como poder ouvir sem que nenhum som seja produzido?
Como caminhar sem asfaltos, estradas, montanhas?...
Por tais indagações, muitas vezes, me distanciei de mim sem se quer perceber.
Eu, que tanto observo as coisas com os olhos abertos, me acostumei a fechá-los para poder sentir a emoção verdadeira e o direcionamento correto...
Assim, escuto-me tanto no silêncio madrugal que consigo tocar a essência do som mudo.
Contemplo já há alguns dias, o raiar do sol da varanda imaginária...
Vejo a chuva como ela é: transparente e fria...
Sinto o que é de fato o sol: chama de vulcão, pois seu calor enternece minha sensibilidade, meu labutar incessante pela verdadeira visão das coisas.
Descrevo de dentro para fora o cais medonho. Suas ondas, suas cores, seus deslumbrantes teatros em fins de tarde...
Acato tudo que vejo de olhos fechados.
Recebo de tudo isto, a emoção indescritível de sua essência.
Nas noites, por exemplo, posso contemplar as estrelas...
Vejo aquele tapete negro celeste, pontos cintilantes, raios de despedidas cadentes, circunferências esbranquiçadas como meus olhos em noites de saudade...
Tudo isso me vem através do vento.
O vento é o mensageiro dos astros celestes e de todo cenário astral.
Pude perceber de olhos fechados que qualquer paisagem que desejarmos ver, podemos assim fazer.
De olhos abertos, mas sem a luz, pude sentir coisas que são mais do que se as imagens se projetassem, aparecessem à luz dos meus olhos.
Na minha escuridão perfeita, sinto-a, e ao sentir, sei a essência de tal visão interior.
Se tudo aquilo que víssemos fosse válido apenas sobre a luz da nossa retina, meu espirito não transmitiria tanta emoção acerca das imagens que a minha mente me apresenta.
Cada qual vê à sua maneira.
Quando pude observar mais de perto ao sentir após minha mente transmitir tantas imagens milagrosas...
...rios, chuva, pássaros, estrelas, o cais...
...reconheci que a verdadeira luz é aquela que lançamos de dentro de nós.
Hoje caminho com o brilho estrelar, com a luz do sol, com o cintilar das estrelas, com a iluminação da luz...
Mas carrego comigo, mesmo diante de tantas paisagens que só vejo em mente, a luz mais honesta e pura que se pode comportar em um ser vivente...
Sinto o que um cais representa...
Saudades, partidas, despedidas, esperanças...
E na luz baldia que meus olhos não alcançam, está a luz cadente, que ao sair de dentro da alma, transmite o que podemos sentir, mesmo sem ver literalmente...


Cortês-Pernambuco, domingo, 05 de fevereiro de 2012.

2 comentários:

  1. Está no caminho certo Fábio!Isso se chama o terceiro olho,esse que pode ver as coisas mesmo quando fechamos os olhos,ou exatamente quando fechamos os olhos,pois de olhos fechados e ouvindo o silêncio,não usamos mais os sentidos comuns,usamos os sentidos superiores,e eles sim nos revelam a verdade das coisas e dos seres!Estou orgulhosa de você e da sua busca,nunca desista,encontrará sua luz e se fartará dela e se sentirá livre.Além do que :Escreve belissimamente!Tem domínio das palavras,sabe expressar seus sentimentos e levar o leitor aos seu mundo!Isso é fantástico!Parabéns!Obrigada por me dar o prazer de ler sua alma!

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  2. Satisfação imensa poder ler teu comentátio Cláudia! Nas pelavras coloco meu sangue, meu suor e minhas lágrimas. Isso tem me garantido muitas produções Amiga. Deve ser por isso que, creio, a Literatura é o combustível da minha renovação interior. Abraço no teu coração.

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