Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

quinta-feira, 21 de abril de 2016

cinzeiro desocupado / fábio de carvalho (Quinta-feira, 22 de janeiro do 2015)

PROSA                                                                                                                   22 de janeiro de 2015

cinzeiro desocupado / fábio de carvalho

Eu não aprendi o vicio de fumar
Por pouco não virei um apreciador da nicotina
Mas ela é cheirosa
Covarde, por sinal.
Tão covarde quanto homens e homens.

Veja, digo-me ao espelho:
__Os amigos foram veranear.
Esqueceram-se de ti como se esquece dum filtro de cigarro num cinzeiro.
Mas você vê que logo o verão passará.
A praia, é certo, permanece,
mas os amigos continuam.
De fato, os amigos que fazem por onde serem taxados como tal.

Mas eu olho para este cinzeiro solteiro,
e vendo-me casado com a arte e a mulher,
concluo que todo cigarro acaba,
todo verão finda,
todo amigo morre,
todo dia passa.

Se eu fosse fumante,
Faria companhia a este cinzeiro agora.
É ruim sentir-se só.
Eu não acenderia o cigarro para me exibir,
ou para espantar os mosquitos,
como já fiz no bar de dona Maria;
Eu acenderia o cigarro para não vê a solidão do cinzeiro,
que lembra meu pai,
quando fumava.
Sofreu três infartos por causa dessa droga.
Creio que ele pensava demais quando faltava o cigarro.
Tenho que aprender a não fazer isso quando vê-me igual ao cinzeiro.
Pois todos os verões passam.
Quando eles chegam, alguns amigos imaginam que a época do veraneio será eterna,
e logo esquecem os amigos...
Mas eu continuo aqui,
vendo, os verões passarem,
e a cada ano com menos amigos;
não é culpa do verão.
Mas os amigos também se reconquistam...


Cortês-PE, quinta-feira, de 22 de janeiro de 2015 das 18h13min às 18h29min.


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