PROSA 22 de janeiro de 2015
cinzeiro desocupado / fábio de carvalho
Eu não
aprendi o vicio de fumar
Por
pouco não virei um apreciador da nicotina
Mas ela
é cheirosa
Covarde,
por sinal.
Tão
covarde quanto homens e homens.
Veja,
digo-me ao espelho:
__Os
amigos foram veranear.
Esqueceram-se
de ti como se esquece dum filtro de cigarro num cinzeiro.
Mas
você vê que logo o verão passará.
A
praia, é certo, permanece,
mas os
amigos continuam.
De
fato, os amigos que fazem por onde serem taxados como tal.
Mas eu
olho para este cinzeiro solteiro,
e
vendo-me casado com a arte e a mulher,
concluo
que todo cigarro acaba,
todo
verão finda,
todo
amigo morre,
todo
dia passa.
Se eu
fosse fumante,
Faria
companhia a este cinzeiro agora.
É ruim
sentir-se só.
Eu não
acenderia o cigarro para me exibir,
ou para
espantar os mosquitos,
como já
fiz no bar de dona Maria;
Eu
acenderia o cigarro para não vê a solidão do cinzeiro,
que
lembra meu pai,
quando
fumava.
Sofreu
três infartos por causa dessa droga.
Creio
que ele pensava demais quando faltava o cigarro.
Tenho
que aprender a não fazer isso quando vê-me igual ao cinzeiro.
Pois
todos os verões passam.
Quando
eles chegam, alguns amigos imaginam que a época do veraneio será eterna,
e logo
esquecem os amigos...
Mas eu
continuo aqui,
vendo,
os verões passarem,
e a
cada ano com menos amigos;
não é
culpa do verão.
Mas os
amigos também se reconquistam...
Cortês-PE, quinta-feira, de 22 de janeiro de 2015 das 18h13min às 18h29min.
Nenhum comentário:
Postar um comentário