Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

terça-feira, 27 de março de 2012

ato de saudade / fábio de carvalho (26/03/2012)



ato de saudade / fábio de carvalho


Reconheço que aprendi muitas coisas com o tempo.
Não me resguardo em dizer que tudo que aprendi, aprendi sozinho.
Seria injustiça minha não reconhecer o tempo como o pai de muitas experiências.
Nada além da experiência me resta.
Hoje sei olhar para o horizonte com mais serenidade no olhar do que a algum tempo.
É por isso que louvo o tempo.
O tempo é um santo! Uma espécie de messias abstrato, que na hora certa, faz as coisas acontecerem.
Não procuro interpretar todos os sinais do destino, pois, sei que o tempo só chega na hora correta, propícia, ideal...
O ideal para mim é aquilo que ocorreu em momento oportuno.
Já discuti muito com as situações de fatos consumados.
Não me compreendo apenas com um olhar de uma ótica própria.
Analiso-me hoje com um olhar externo e impessoal.
Creio no tempo e no destino, sem saber qual dos dois é o produto do outro.
O que sei, e afirmo, é que ambos são independentes e ao mesmo tempo interligados neles próprios.
Eu, por vezes, não penso que sou independente do tempo ou do destino...
Não sou independente das coisas vivas ou mortas...
Não sou independente do alimento carnal ou espiritual...
Necessito de muita coisa ao meu redor e de longe de mim...
Há... De longe de mim... E como...

À distância me dilacera o espírito sem pedir licença.
O tempo sempre me trás esses mal-estares.
Acabo me vendo pelo avesso em muitas ocasiões.
Meu interior me olha de fora pra dentro como se reluzisse de mim uma luz obscura que não apenas escurece meu espírito, mas também o meu olhar distante.

Ontem te esperei no cais...
Você não veio! [__Por que não viestes?]
Por quê te fostes na caravela do destino?
Estou sem compreender esse desencontro, essa distância física...
Apesar dos pesares, quando não consigo te observar – confesso –, consigo te sentir.
Para isto, fecho apenas meus olhos e transporto tua imagem para dentro de mim.
Não é possível que sentindo isto que tu sentes permaneçamos esses restos de vidas apartadas como o dia da noite... se cruzando apenas algumas vezes como a aurora e o crepúsculo que parte...
Imagino as vezes que somos dois amanheceres em lados opostos na ânsia de realizarmos eclipses diários...
Como não encontro maneira, fico no cais, a espera de ti no dia seguinte...
Mas você não vem...
Mais uma vez você não veio...

Pergunto-te agora como faremos para apagar este trauma, esta chaga de saudade.
__ (?)
Preciso de uma urgente resposta.
Eu não diria que o nosso laço se desprendeu ou que ao segurar de leve você puxava, desatando-o.
Nada mais doloroso do que uma despedida sem despedir-se...
Nada menos triste do que uma saudade terna narrada em linhas de amargura...
Tudo isto, em um ato de saudade, se completa quando o vazio em si se instala e permanece no vazio da mente nas noites sem barulhos.
Vi que somos o que éramos.
Continuamos os mesmos na mesma distância, no mesmo amor incompreensível; talvez o maior de todos...

Eu acreditei um dia que fomos eternos como esta saudade que não cessa.
Eu me enganei.
Eu me enganei como tantos se enganam.
Não podemos voltar os ponteiros dos relógios com a mesma perfeição que o tempo os fazem girar rapidamente.
A minha chance agora, é observar-te de longe, sem compromisso com o que pensarei, pois não podemos frear aquilo que o nosso coração transmite para nossa mente.
A vida triste é consequência da falta de atitude.
Os sonhos quase mortos são resultados de ilusões perdidas nos caminhos sem voltas.
As perguntas sem respostas são frutos dos muitos momentos de silêncio que fizemos questão de executar, e isto, sem saber que o silêncio também fala.

Ontem te esperei passar, mas você não passou...
Ontem esperei tua chamada, mas você não chamou...
Ontem te senti bem perto de mim quando fechei os olhos, e posso te garantir que senti-nos abraçados.

A minha estrada se perdeu.
O meu olhar está um pouco disperso.
O meu sono descontrolado.
A minha incompreensão aguçada.
O meu semblante perdido.
As minhas mãos trêmulas de tanto escrever.
Tenho escrito muito ultimamente.
Não percebo mais quanto antes às horas.
Perdi um pouco a noção do tempo.
Talvez, as horas que eu tenho saído para ver se te encontro não foram às horas adequadas, ditas, naturais.
Estou devendo algumas horas ao sono, ao compromisso com a felicidade, aos efeitos anestésicos da saudade.
E tenho dito a mim mesmo que não vou mais me amargurar com esta situação.
Tenho dito...
Não vejo as horas que me olho no espelho e me prometo isto e muito mais coisas...

O que me resta a não ser as promessas não cumpridas...
Os pactos não consumados...
Os encontros irrealizáveis...
As noites a escrever.

Nosso destino está escrito a sangue de um amor cintilante.
Mas a sombra do tempo tem nos dado o amargor da distância...
Tem nos oferecido as doses mais acrimoniosas que se tem conhecimento.

E só me restam os efeitos da saudade...
Os poemas de saudade...
Os sonetos de saudade...
Os atos de saudade...

Cortês – Pernambuco, segunda-feira, 26 de março de 2012.

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