Poeta Fábio de Carvalho Multiartista Pernambucano

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

caravelas / fábio de carvalho



caravelas / fábio de carvalho


Vejo de longe uma caravela se dissipando no mar.
Vai-se meu pensamento para longas lembranças.
Cumpri muitas promessas, muitas penas.
Senti a dor de tantos momentos intrincados.
Nenhum sentimento de dor supera a de olhar um barco indo para o desconhecido.
Pelas minhas decepções pude compreender coisas sobre o tempo e sobre a cura de si mesmo quando mágoas nos acometem sevas penalidades.
Ainda assim vejo barcaças se despedindo, navios partindo para sempre.
No mar que a vida reserva para nós, os navegantes, marinheiros e almirantes, encontramos naufrágios, rochas solitárias, ilhas de desenganos...
Não é possível concluir muitas coisas.
No mar ou se arrisca ou perde-se para sempre.
Nas noites, quando as tempestades chegam, a melhor coisa a fazer é chorar com ela.
Não venceremos suas lágrimas, mas falaremos a mesma língua, e quando se fala a mesma língua de alguém que se teme, sentimo-nos inferiormente ameaçados.
Importante ou não, as canoas que se vão para as conquistas do além-mar, me causam imensas e desconcertantes sensações de angústia...
Lá se vão...
Homens de barbas enormes, com o coração cheio do lodo da experiência.
Nos rochedos de alto-mar, encontramos água doce nas suas locas no alto da proa.
A ponta do arpão lembra a qualquer um a dor da navalha que o sentimento de ida sem volta nos faz sentir.
Quantos chapéus não foram lançados ao mar no ato da despedida?...
Quantas lágrimas foram ao encontro das águas também salgadas ao cair dos olhos almirantes daqueles que travaram a mira de um olhar de sonho e de interrupção causada pelo destino?...
Não compreendo diante de um navio, no cais, no momento da partida, a sensação da despedida.
Quantos de nós não se despedem todos os dias no cais destino?
Talvez o peso da distância que se revela a cada metro de costa percorrido nos faça perceber que a noção de distância e de dimensão seja apenas temporária...
Há quem afirme cegamente que para ver quem se deseja basta fechar os olhos.
O coração reage avesso a frases conformistas.
O dom dos navios é levar para longe, felicidade...
O cais é mais um desses lugares que faz de fins de tardes, de inicios de noites de lua cheia, de amanheceres únicos, momentos eternos de sonhos, de saudades, de eterna angústia...
Talvez não seja aconselhável visitar o cais, os navios que estão de partida ou até mesmo as barcarolas feitas de papel para serem lançadas nas costas em dias de marés afoitas.
Tudo que é ligado ao mar traz-nos lembranças impreteríveis e um vago inexplicável.
Tais desafetos, deixemos para poetas incultos...
...estes são os escultores da memória triste, os inventores das intermináveis estradas sem rumo e sem saída...



Cortês – Pernambuco, quarta-feira, 15 de agosto de 2012.

2 comentários:

  1. O mar leva, o mar trás, nobre poeta.
    Nossa esperança se perde em ondas gigantescas, na ressaca da onda que bate com força nas pedras, assim como a vida e há vida nos bate. Podemos fazer duas coisas: esperar que o mar se acalme ou enfrentar o mar revolto, mas no fim sempre nos perderemos na odisseia que é a vida.

    Ótimo poema, Fábio!

    Abraços literários.

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  2. Enquanto a vida for vida meu amigo Marcos, estaremos nesse barco, que eternamente, nos levará ao desconhecido...
    Um abraço!
    Poetar é preciso!!!

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